8 de setembro de 2013

Bandas curitibanas vivem ótimo momento musical


Puxados pela Banda Mais Bonita da Cidade, grupos de estilos variados despontam no cenário local
A "Oração" da Banda Mais Bonita da Cidade surtiu efeito. Dois anos depois do estouro daquele vídeo - um plano-sequência que se tornou fenômeno na internet, com mais de 12 milhões de visualizações no YouTube desde 2011 -, Curitiba vive um boom musical de variadas tonalidades. Sem um som ou estilo predominantes - como aconteceu com o mangue beat de Recife, por exemplo -, a capital paranaense revela uma série de bandas e artistas que vão do rock à eletrônica e do folk ao hip-hop, num cruzamento de influências e parcerias turbinado pelo poder da redes sociais.

A Banda Mais Bonita da Cidade despontou com clipe que virou hit na internet

Transitando por uma trilha aberta nos anos 1980 por grupos de punk e rock como Beijo AA Força e Relespública, e ampliada na década de 2000 pelo balanço alegre do Bonde do Rolê e do Copacabana Club, a turma de 2010 avança a passos largos, colocando em trânsito livre o grupo Audac, a rapper Karol Conka, os cantores Ana Larrouse e Leo Fressato, além do exilado Boss in Drama e da própria Banda Mais Bonita da Cidade, do músico e produtor Rodrigo Lemos, que tem o projeto solo Lemoskine.

"É uma turma que ficou muito tempo acompanhando as coisas pela internet e agora parece cansada de ficar só em frente ao computador", arrisca Ana Larrouse, que emprestou a casa da avó para as gravações do já célebre vídeo da Banda Mais Bonita da Cidade. "Agora temos vontade de ir para a rua, de fazer colaborações, de ficar frente a frente. As pessoas atuavam de forma muito isolada em Curitiba, cada um no seu canto. Isso já não acontece mais".

A cantora é um exemplo desse tipo de iniciativa. Em 2012, ela se uniu a Leo Fressato (autor de "Oração"), e ambos buscaram ajuda no sistema de financiamento coletivo Catarse para finalizar seus discos de estreia, respectivamente "Tudo começou aqui" e "Canções para o inverno passar depressa". O projeto foi bem-sucedido, e os trabalhos, independentes, acabam de ser lançados. "Acredito que ´Oração´ representou a afirmação da produção própria dos artistas curitibanos", afirma Fressato. "Ela deu um incentivo para que outras pessoas investissem em seus trabalhos pessoais em vez de seguir a trilha fácil dos covers, que sempre atrapalharam a formação de uma identidade própria da cidade. Hoje acredito que a pluraridade é que marca Curitiba. Tem som para todos os gostos".

Para o produtor americano Gordon Raphael, o gosto que ficou foi o do Audac, o mais promissor produto de exportação de Curitiba em 2013. Responsável pelos dois primeiros discos dos Strokes, "Is this it" e "Room on fire", ele se encantou pela sonoridade híbrida do grupo e concordou em produzir o seu disco de estreia, durante uma passagem pelo Brasil no começo deste ano, para um workshop em Florianópolis.

"Gostei do som do Audac de primeira. Os elementos estavam todos lá, as vozes, o balanço, os climas. Quando vi o grupo ao vivo e descobri que as nuances eletrônicas eram completadas por uma energia rock and roll, tive a certeza de que era a banda que eu queria produzir no Brasil", diz ele.

"Meu trabalho, na verdade, foi apenas deixar o grupo confortável e confiante com seu próprio som".

Formado por Alyssa Aquino (voz e sintetizadores), Débora Salomão (voz e baixo), Alessandro Oliveira (guitarra) e Pablo Busetti (bateria), o Audac - que abriu o show da banda australiana Tame Impala, em São Paulo, em 2012 - canta em inglês nas oito faixas do seu homônimo disco de estreia, lançado em formato digital. "Tudo aconteceu muito rápido para a gente, desde o show com o Tame Impala até as gravações com o Gordon", conta Alyssa, fã de Beatles, Tom Jobim e Ramones. "Mas ainda não conseguimos uma estrutura para a dedicação completa à música. Tirando o Wonka e o James Bar, não há muitos espaços para tocar em Curitiba. Mesmo assim, a cidade vive um bom momento, com uma interseção muito grande entre as bandas e o público".

Movimento
Foi essa união que fez a força de "Toda doida", recente single do Boss in Drama. Aperitivo para o segundo disco do projeto eletrônico do produtor Péricles Martins, previsto para o fim do ano, a música tem a participação da rapper Karol Conka, num bem-sucedido casamento de house e hip-hop.

"Curitiba não é um lugar muito grande e tem as coisas concentradas. Por isso, é um lugar onde os artistas são o público também", diz Karol, que lançou recentemente seu primeiro disco solo, "Batuk freak". "Isso faz com que todo mundo se encontre, troque ideias. Nos meus shows, vejo o pessoal do rock, da eletrônica e até do samba. Acho que foi isso que me levou ao encontro do Boss in Drama".

"Está rolando uma explosão criativa muito bonita em Curitiba, de gente que não se prende a rótulos", afirma Péricles Martins, que há quatro anos trocou Curitiba por São Paulo. "Nunca toquei tanto na cidade desde que me mudei, é até engraçado".

Elemento central desse renovado cenário, Rodrigo Lemos é outro que simboliza diversidade: além do trabalho com A Banda Mais Bonita da Cidade, produziu o disco de Ana Larrouse, lançou um álbum com o Lemoskine no fim do ano passado (chamado "Toda casa crua") e prepara um documentário sobre este seu projeto paralelo. "Vai ser um filme para a internet sobre o show que gravamos no Moinho Curitibano, um espaço incrível, mas que está desativado", diz ele. "Há muitas coisas acontecendo em Curitiba de uns tempos para cá. Tem gente que considera essa diversidade o ponto fraco da cidade, como se ela não tivesse uma cara, mas eu acho que essa, na verdade, é a sua maior força. Essa cena tem várias caras".

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